Monday, July 29, 2013

O que é a vida?

Eu tive um sonho no qual a vida era apenas uma espécie de prova pra gente decidir se iria para o paraíso ou não. Nele eu me perguntava: e se o inferno for simplesmente um lugar sem amor?

Thursday, July 11, 2013

Noventa segundos


Diz a ciência que uma emoção dura apenas noventa segundos. Toda raiva, alegria ou tristeza que parecem não ter fim são só o reflexo dos pensamentos recorrentes que disparam o gatilho da emoção over and over.
Ela sabia disso, mas o frio, o cinza e a garoa decidiram prendê-la atrás de uma cerca viva de pensamentos melancólicos. Nem o punhado de truques de respiração parecia disposto a salvá-la naquela tarde úmida.
Inflamada pelas manifestações públicas que tomavam as ruas de sua cidade, decidiu ser dura e lançar mão de artilharia pesada: chocolate, morango e creme, cobertos com caramelo, marshmallow e farofa, cercados por duas metades da mesma banana.
A lanchonete era pequena. O chão era vermelho e as mesas com pés de metal eram cobertas por um tampo de fórmica. O toque final na decoração retrô vinha de dois garçons de cabelos ralos e brancos que pareciam ter nascido e morrido naquele local. Como o velho Amigo da Onça, usavam calças e sapatos pretos, complementados por camisa e paletó brancos. E uma gravata-borboleta preta, claro.
Sentia que estava vencendo aquilo que chamava  de sua "loucura". Entre uma colherada e outra, olhava para o lado direito e via o apresentador histriônico pedindo imagens na tela. A televisão estava muda, mas o sabia de cor.
As duas metades da banana eram só um pretexto. Nunca eram tocadas pela colher. Outras metades de outras bananas foram tratadas com o mesmo descaso no seu passado.
Satisfeita com a emoção de seus últimos noventa segundos, concluiu que podia ser a senhora de todas as suas sandices. Dispensou o apresentador e criou coragem para buscar a rua com seus olhos.
Jack Sparrow estava lá. Ali, ao alcance de seus olhos. Se esticasse a mão tocaria num janelão de vidro gelado, mas o capitão estava prá lá da barreira, sim, senhor. Ele não disse nada, mas acenou com a cabeça. E apesar de não conhecer seu sotaque de cor, sabia que aquele aceno queria dizer “Sou o capitão Jack Sparrow, sim, senhora”.
A colher arranhou algo. Olhou para a tigela. A baba de sorvete derretido misturado com caramelo e marshmallow acabara. As duas metades da mesma banana restavam intactas.
Sua loucura não parecia dominada. Entre o lamento, o medo e seus noventa segundos, lembrou-se do pirata. Talvez ele a entendesse. Talvez até aceitasse entrar naquela capsula do tempo e  matasse umas duas curiosidades: revelaria seu sotaque e como escapar dos pensamentos paranoicos que precedem o esquecimento total na morte. Se ele entrasse na lanchonete poderia pedir um novo sorvete. Dessa vez sugeriria que as metades da mesma banana fossem reaproveitadas.
Procurou por ele. O pirata sem perna de pau não estava mais lá.
Pagou a conta apressada e correu para a rua. Quase gritou por Jack Sparrow. Buscou por uma espada, uma bandeira preta ou um navio. Qualquer vestígio serviria de pista. Nada. Lamentou.
Cinco dias depois...
Estava no parque. Nada de frio, muito azul e sol forte. O vento agradável gentilmente afastava qualquer problema de sua cabeça. Água mineral para manter a hidratação.
Embalada pela calma que as notas da Orquestra Sinfônica de sua cidade soltava no ar, sentia que só precisava de contato com a natureza para viver sempre feliz e equilibrada. Deitou-se na grama e aceitou o sol com toda sua luz. Deixou que aquilo a dominasse e se esqueceu dos noventa segundos.
Em algum momento sentiu uma sombra tomar seu rosto e abriu os olhos. Jack Sparrow estava lá. Ali, ao alcance de suas mãos. Se forçasse os olhos queimaria a retina porque os raios que escapavam por detrás do pirata eram fortes. Ele não disse nada, mas acenou com a cabeça. E apesar de não conhecer seu sotaque de cor, sabia que aquele aceno queria dizer “Sou eu de novo, sim, senhora”.
A música parou. As palmas pararam.
Sua paz não parecia dominada. Entre o lamento, o medo e seus noventa segundos, lembrou-se do pirata. Talvez ele a entendesse. Talvez até aceitasse sentar-se na grama e matasse umas duas curiosidades: revelaria seu sotaque e como manter sua bússola mágica sempre funcionando.
Jack Sparrow interrompeu sua conversa mental.
– Algunas partidas se ganan cuando se pierden.
Ele falava portunhol. Se ela o tivesse seguido de perto acabaria descobrindo que o pirata afinal era paraguaio. Dos outros segredos nada soube.

Tuesday, July 09, 2013

Agenda setting

Fiz um teste simples cujo resultado é intrigante.
Fui ao Google e digitei "sonegação" e "Messi". No resultado tem de tudo um pouco: Estadão, Uol, Globo.com, Terra, ESPN e outros que desde o começo de junho reportam os passos do argentino em sua disputa com a Receita espanhola.
Voltei ao Google e digitei "sonegação" e "Globo". Mais de 8 páginas de resultado só com links de blogs independentes. Nada, 0, zerinho que tenha sido publicado por um veículo de grande porte.
Terceira rodada no Google e dessa vez usei "sonegação" e "Rede Globo". Apareceram dois links do R7 da Record e, de novo, páginas e mais páginas com links de blogs.
A possível sonegação de impostos de um argentino feita à Receita de um país europeu tem mais relevância jornalística do que a possível sonegação de impostos da maior emissora de TV do país? O processo movido contra a funcionária da Receita Federal brasileira que SUMIU com o processo de sonegação da Globo também não tem relevância jornalística?
A cada dia que passa agradeço mais a Mirla por persistir nas áridas aulas sobre a hipótese de agenda setting.

Monday, July 01, 2013

Extratos de vida

Na hora do aperto todo mundo apela para suas manias, suas fórmulas ou seus escapes. Hoje corri para a chuva, para o ar frio batendo no rosto enquanto as rodinhas deslizavam no concreto liso do parque.
A temporada de caça aos meus extratos de vida está aberta e gosto disso.