Thursday, August 08, 2013

Aparição


Abriu os olhos. Encontrou o teto branco como de costume. Olhou para o lado. A almofada vermelha de sua cachorra estava vazia como era de costume naqueles dias de verão.
Levantou-se. Caminhou até o banheiro. Abriu a torneira. Juntou suas mãos em concha, abaixou a cabeça e lavou seu rosto.
Endireitou o corpo. Abriu bem os olhos. Respirou fundo. Deixou o ar sair lentamente e repetiu o movimento.
Apanhou a escova de dente. Pegou o tubo de pasta branco. Umedeceu escova e pasta que agora eram um só instrumento de higiene. Agitou seu punho de baixo para cima, da esquerda para a direita, tudo contado em movimentos de três tempos.
Cuspiu. Enxaguou. Cuspiu. Passou a toalha azul com listras brancas e finas.
Trocou de ambiente.
Mesmo com os poucos passos requeridos pelo pequeno apartamento, cada passagem de ambiente parecia feita sob forte intoxicação por anestésicos. Desejava que aquela viagem terminasse logo, mas o controle não era seu.
Tudo lento, pastoso e sufocante.
- Meu Deus, quando esse dia vai terminar?
O relógio marcava cinco minutos passados das oito horas.
- Preciso de pregos e de um martelo. Essas paredes precisam de quadros. A vida precisa de ar, suspirou no fim.
Um vaso improvisado guardava algumas flores. Flores murchas que lembravam uma bunda conhecida.
Tomou dois comprimidos.
- Pena que esses não me deixarão mais divertida.
Procurou por alguma coisa que lhe serviria de desjejum, mas tudo parecia muito morto.
Se dirigiu ao quarto. A luz no teto era fraca. Abriu a janela e fechou a porta. O espelho só teria utilidade dessa forma. Resolveu olhar-se para escolher a roupa de acordo com a sua aparência do dia.
- O homem é a medida de todas as coisas, pensou antes de começar a se avaliar.
Encarou o espelho. Notou um vulto estranho. Apertou os olhos para corrigir o foco. O vulto permanecia lá. Deu dois passos, aproximou-se do espelho para endireitar a visão e foi ai que tudo se perdeu...

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