Abriu
os olhos. Encontrou o teto branco como de costume. Olhou para o lado. A
almofada vermelha de sua cachorra estava vazia como era de costume naqueles
dias de verão.
Levantou-se.
Caminhou até o banheiro. Abriu a torneira. Juntou suas mãos em concha, abaixou
a cabeça e lavou seu rosto.
Endireitou
o corpo. Abriu bem os olhos. Respirou fundo. Deixou o ar sair lentamente e
repetiu o movimento.
Apanhou
a escova de dente. Pegou o tubo de pasta branco. Umedeceu escova e pasta que
agora eram um só instrumento de higiene. Agitou seu punho de baixo para cima,
da esquerda para a direita, tudo contado em movimentos de três tempos.
Cuspiu.
Enxaguou. Cuspiu. Passou a toalha azul com listras brancas e finas.
Trocou
de ambiente.
Mesmo
com os poucos passos requeridos pelo pequeno apartamento, cada passagem de
ambiente parecia feita sob forte intoxicação por anestésicos. Desejava que
aquela viagem terminasse logo, mas o controle não era seu.
Tudo
lento, pastoso e sufocante.
-
Meu Deus, quando esse dia vai terminar?
O
relógio marcava cinco minutos passados das oito horas.
-
Preciso de pregos e de um martelo. Essas paredes precisam de quadros. A vida
precisa de ar, suspirou no fim.
Um
vaso improvisado guardava algumas flores. Flores murchas que lembravam uma
bunda conhecida.
Tomou
dois comprimidos.
-
Pena que esses não me deixarão mais divertida.
Procurou
por alguma coisa que lhe serviria de desjejum, mas tudo parecia muito morto.
Se
dirigiu ao quarto. A luz no teto era fraca. Abriu a janela e fechou a porta. O
espelho só teria utilidade dessa forma. Resolveu olhar-se para escolher a roupa
de acordo com a sua aparência do dia.
-
O homem é a medida de todas as coisas, pensou antes de começar a se avaliar.
Encarou
o espelho. Notou um vulto estranho. Apertou os olhos para corrigir o foco. O
vulto permanecia lá. Deu dois passos, aproximou-se do espelho para endireitar a
visão e foi ai que tudo se perdeu...
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