Saturday, February 24, 2007

MOMENTO DESCONTROL

Toda pessoa que morre merece um ritual de passagem. Na verdade, nem sempre a pessoa que morre merece um ritual, mas o que fica, sim.
Existe a presença da pessoa. A existência que se embaralha na existência do outro. E de repente, essa existência acaba e aquele emaranhado de coisas fica murcho e sem sentido. Sem sentido racional mesmo.
É a forma como o homem trabalha o luto, trata da sua dor e tenta seguir em frente depois de fazer algum ritual de rompimento. Velório, enterro, cremação, entrega de flores ou comidas em datas especiais e significativas.
Dia vinte e cinco de fevereiro de dois mil e sete. Três e quinze da manhã já sem o horário de verão.
Acabei de chegar da balada que estava indo muito bem e que terminou com o funeral de um ente querido. Como em todo ritual desse tipo, sobrou sentimentos estranhos, revoltas, descontroles e dor pela morte indubitável.
A morte é assim. Definitiva e dolorosa.
E quem morreu?
Uma pessoa especial que conhecí há quatro anos atrás. De fato, essa pessoa vinha morrendo aos poucos. Tantos acontecimentos, tantos desrespeitos que aquela pessoa especial foi se esvaindo e deixando no seu lugar uma caveira horrorosa. Me custava aceitar isso. Como uma energia tão boa podia ir se acabando e se transformando em tanta falta de caráter e de consideração?
Essas perguntas não vem mais ao caso porque hoje participei do funeral e como disse no início, a morte é inquestionável.
O funeral teve todas as pompas que uma ocasião como essa merece. Choro, revolta, violência, descontrole. Finalmente, pude me descontrolar e deixar fluir toda a raiva. Toda não. Mas foi um pouco e o resto que sobrou vai ser eliminado durante o luto.
E aqui jaz.

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