Saturday, February 24, 2007

A vida é muito superficial. Tudo parece um tanto quanto raso (menos o buraco do Metrô).
Cinco dias de trabalho intenso separados por horas necessárias de sono, alimentação, locomoção e atividades domésticas. Claro, a espera de dois dias de intervalo ou de feriados e suas emendas.
Falo com dezenas de pessoas ao longo de minhas várias horas no escritório. Convivo com elas diariamente. E não sei nada sobre ninguém porque eu nunca quis saber.
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A mulher que se senta duas mesas ao lado da minha já sofreu quatro abortos e é louca para ter filhos mas não consegue. Fiquei sabendo disso ontem e é claro que não foi através dela. Nunca pensei que ela tivesse passado por esse tipo de sofrimento. Na verdade, nunca pensei que ela fosse humana e tivesse sentimentos.
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O cara que faz parte da minha equipe e que se senta frente a frente comigo parece sem energia. Loiro e um pouco sem vida. Como se tivesse problemas sérios de tireóide ou de anemia profunda. Falo com ele o dia inteiro mas também não me lembro se ele é humano. Não sei do que ele gosta, para qual time torce, se ama ou se odeia alguém.
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Faço massagem três dias por semana. Fico praticamente nua e deixo que alguém cuide do meu corpo e da minha energia. A recepcionista do lugar usa um óculos de aro bem fino e vive com o cabelo castanho preso num rabo de cavalo. Tem um sorriso sempre doce. Essa semana, através da massagista, fiquei sabendo que ela perdeu um filho de dois anos, morto com câncer.
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Ontem eu fui para a rua.
Noite quente e estrelada. Cerveja ao ar livre. Amigos e não-amigos. Gente. Muita gente e muita distração para os cinco sentidos.
Pessoas bebendo e sorrindo ao meu redor. E, tirando as duas amigas de longa data, nada de pessoas de verdade. Parecia tudo um longo comercial de Bud. Talvez estivesse um pouco mais para Heineken.
Beleza, sorrisos, pequenas discussões de mentirinha, olhares, atitudes diferentes e só uma pessoa que deixou passar uma lasca de algum sentimento. O sentimento parecia ser de confusão mental ou talvez rejeição. Mas era um pouco de verdade sobre alguém. Ou não.

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