Saturday, January 28, 2012

Da série onde está o vilão


Era uma vez um menino magrelo que morava num amontoado de barracos numa terra chamada Favela. Sua mãe tinha nome de princesa e antes de completar duas décadas de reinado já tinha trazido ao mundo quatro herdeiros, todos meninos como nosso menino magrelo. Ele tinha um nome, mas mais importante do que isso ele tinha personalidade e por isso lhe chamavam de Mijado.
Em Favela sempre se ouvia barulho fosse dia ou fosse noite. Música, choro, tiro, riso ou grito. Uma festa, alguns diriam.
Numa terra muito, muito distante de Favela havia um menino rosado que vivia num amontoado de andares de prédios. Esse reino era chamado Cidade da Higiene. Sua mãe tinha nome de santa e logo depois de se realizar na profissão trouxe ao mundo um anjo cor de rosa, nosso menino rosado. Ele tinha dois nomes, mas mais importante do que isso ele tinha origem e por isso lhe chamavam de Junior.
Na Cidade da Higiene se ouvia barulho durante o dia. Carro, moto, pássaros e o apito dos rádios dos seguranças. Uma beleza, alguns diriam.
Mijado, como já foi dito, tinha personalidade. Menino arteiro, desbocado que obviamente não dava pro estudo como bem notou sua última professora. Tanto bateu, xingou e quebrou que acabou fora da escola. A notícia não espantou a mãe-princesa que se encontrava envolvida demais na tarefa de achar um novo sapo. Enquanto procurava nos brejos não percebeu que Mijado deixara Favela para trás.
Junior, como já foi dito, tinha dois nomes. No colégio lhe chamavam pelo primeiro. Na natação usavam o segundo. Na aula de guitarra era mesmo o Juninho. Menino arteiro, desbocado que obviamente precisava de muitas atividades para gastar o excesso de energia como bem notou sua coordenadora pedagógica. Tanto estudou, nadou e tocou que acabou estafado. A notícia preocupou a mãe-santa que se encontrava envolvida demais na tarefa de ser promovida. Enquanto resolvia questões complexas pediu para Babá levar Junior ao médico.
No caminho de Mijado surgiu uma chance de ouro. Uma ilha livre cheia de criaturas mágicas a que deram o nome de Terra dos Craques. Lá encontraria abrigo e viveria sonhos com outras crianças que como ele não pertenciam a lugar algum. Mijado finalmente foi feliz por incríveis quinze minutos. O mundo não poderia ser um lugar tão injusto. E não era. Logo ele conseguiu mais quinze minutos, outros quinze e assim seguiu sempre perambulando em busca de sua lasca iluminada com quinze minutos felizes.
De mãos dadas com Babá, Junior seguia rumo ao consultório que ficava a dois quarteirões de sua casa. Finalmente receberia cuidados para recuperar a saúde e voltar a ser o mesmo Juninho de antes que estudava, nadava e tocava. Depois do médico a mãe deixaria que ele finalmente jogasse o novo video game dado pelo pai. A vida não poderia ser tão injusta. E não era. Logo ele foi atendido, recebeu vitaminas e um pedido para exame de sangue.
Mijado estava ansioso pra achar seus quinze minutos de felicidade.
Juninho estava ansioso pra testar o novo video game.
Na esquina do consutório, próximo do paraíso de um e da casa de outro, Mijado encontrou Juninho. Desse encontro, por motivos diferentes, nenhum dos dois se lembrará, mas o povo de todas as terras sim. E se perguntarão como foi possível.








2 comments:

Beatriz Jorge said...

Que texto incrível! Ainda estou caçando adjetivos, mas não consigo um exato. Gosto disso.

Sa said...

Muito agradecida. Tô criando coragem para publicar outras.